Por Claudia Bittencourt
A Filosofia Slow que alguns seguidores e escritores definem como o “ato de usar o tempo sabiamente e fazer tudo no ritmo certo” começou a ganhar vários adeptos em diferentes áreas inclusive no mundo corporativo, porém num ritmo slow, ou seja, aos poucos, em contradição à realidade que nos apresenta onde tudo e todos estão sendo atropelados pela evolução da tecnologia onde agilidade é a palavra do momento. No mundo corporativo, há até poucos meses, havia a sensação de que o movimento slow, como foi chamado, estava mais para discurso de ativistas do que uma prática de fato.
Não imaginava o idealizador do movimento que viria uma pandemia e que a humanidade poderia, de repente, descobrir fazer sentido olhar o mundo não no modo fast mas no modo slow.
Num primeiro momento, com o caos instalado, as pessoas forçadas pela quarentena, em casa, literalmente ficou tudo muito junto e misturado, os afazeres domésticos com as atividades profissionais e educacionais, e todos se dividindo como podiam, para não deixar de atender ninguém, nem o patrão, nem o filho, a esposa, o marido, uma verdadeira orquestra com mais de um maestro e vários instrumentos desafinados. Situação jamais imaginada.
Além do medo, pairava a sensação e a ilusão de que seria por pouco tempo e que logo as coisas voltariam ao normal. O tempo foi passando e a realidade que se apresentava era mais cruel e transcorria no seu ritmo e na sua velocidade, desafiando as maiores autoridades e institutos ligados a medicina no mundo e que nenhuma tecnologia foi capaz resolver.
Apesar do efeito devastador causado pela COVID-19, o prolongamento de sua permanência foi causando nas pessoas o sentimento slow, aquele sentimento que quase fala, que quase salta do peito das pessoas: calma, relaxa! Não há o que você possa fazer, além de cuidar de si e do outro, um dia de cada vez. Sim, no meio de tudo isso, começamos a vivenciar o mundo, a filosofia e o movimento slow, com a oportunidade de avaliar o efeito de tudo, juntos, em todos os sentidos e em todos os níveis e meios.
Os empresários começaram a enxergar outras perspectivas, sentiram a solidariedade e o amor daqueles que fazem o seu negócio funcionar e aumentaram a preocupação e os cuidados com eles. Os pais na convivência com os filhos passaram a experimentar o quanto é prazeroso ver o desenvolvimento das crianças e o quanto estão aprendendo com elas.
A necessidade de equilibrar tudo, de valorizar o que não era valorizado, de enxergar o que não era visto, de preservar o que não era preservado, de amar o desconhecido, de doar mais e receber menos, e, de se apegar a algo superior, ao Pai, aflorou. Entramos todos no mesmo barco, sem distinção de raça, classe social, poder e o que mais possa distinguir um ser humano do outro, e estamos atravessando as ondas e tormentas com poucos equipamentos, mas com muita esperança de que juntos chegaremos do outro lado, experimentando todas as sensações possíveis, o calor do sol, a brisa do anoitecer, o cantar das gaivotas, o balanço das ondas e o aperto no coração de cada um.
Em 2004, autor Carl Honoré escreveu o livro “In Praise of Slow”, traduzido para o português sob o título “Devagar”, onde cita como a filosofia Slow pode ser aplicada em todos os campos da atuação humana, Honoré descreve o Slow Movement assim:
“É uma revolução cultural contra a noção de que mais rápido é sempre melhor. A filosofia Slow não é fazer tudo a um ritmo de caracol. Trata-se de tentar fazer tudo à velocidade certa. Saboreando as horas e minutos em vez de apenas contá-los. Fazendo tudo o que for possível, em vez de ser o mais rápido possível. É sobre ter qualidade em detrimento da quantidade em tudo, desde o trabalho até a comida e a criação dos filhos”.
Bem-vindos ao Movimento Slow acelerado pela pandemia.