Por Marcos Tadeu
Membro Fundador do Portal NDEV
Especialista em Fast Fashion

O conceito de Fast Fashion tem a ver com a velocidade com que as coleções percorrem toda a cadeia de suprimentos, desde sua concepção até a exposição no canal de vendas físico ou digital. É comum pensar que o “fast” tem a ver com perecibilidade. No caso do Fast Fashion, a tradução deve ser literal mesmo. É a velocidade que se busca e não a obsolescência programada dos produtos de moda.

Um dos pilares do Fast Fashion, talvez o principal, é transformar o sistema de envio de mercadorias de EMPURRADO para PUXADO. A dinâmica do varejo de moda sempre se pautou por empurrar os produtos para as lojas, em um jogo de adivinhação quase sempre de difícil acerto.

Os gerentes de produto ou de estilo viajam para o hemisfério norte em busca de tendências de moda. Observam as vitrines e as pessoas andando nas ruas, participam de desfiles nos centros mais importantes do setor, como Milão e Nova York, visitam os principais fornecedores, etc. A partir daí, definem as tendências para a próxima estação no Brasil que tem o clima invertido em relação ao hemisfério norte.

O momento crítico é o da aposta. Quais cores identificadas nas tendências irão agradar mais os consumidores brasileiros? A mesma pergunta vale para as estampas, tecidos, aviamentos, ornamentos, caimento, etc. Quanto disponibilizar de cada uma das combinações possíveis, tendo em vista que o maior objetivo é evitar as quebras e os excessos de estoque?

No sistema EMPURRADO as apostas são mais arriscadas porque inicia-se a estação com 100% das mercadorias compradas, ou seja, quaisquer erros deverão ser corrigidos através de descontos, cujo impacto negativo na margem de vendas todos os varejistas conhecem muito bem.

Já no sistema PUXADO quem determina o que vai ser disponibilizado são os clientes. A produção deve ser ágil para repor aquilo que vender mais. O benefício é enorme e impacta diretamente a última linha, uma vez que o estoque médio pode ser reduzido, bem como as quebras e os excessos.

A grande questão está na velocidade desta reposição. Embora a matéria prima que compõe uma camiseta de malha não seja perecível, a informação que ela carrega é. Se o cliente busca um determinado item e não o encontra naquele exato momento, o mesmo item não será mais desejado após 30 dias. Perdeu-se o timing. Aqui destaca-se o princípio do FAST FASHION. A cadeia deve estar totalmente integrada, desde a produção até a apresentação aos consumidores.

O “pai” do Fast Fashion é o varejista espanhol Amâncio Ortega, dono da Inditex que controla a ZARA e outras marcas. Aparentemente, tudo começou na década de 70 quando ele precisou contornar uma situação em que precisava vender um grande pedido que foi cancelado por um varejista alemão. Todo seu capital havia sido investido nesta produção, de forma que não havia outra alternativa senão vender tudo. Assim nasceu a ZARA. Hoje presente em dezenas de países, a ZARA é sucesso retumbante. Seu sistema obedece a lógica de produzir, transportar, repor agilmente os produtos. Tudo em uma cadeia integrada e puxada.

Um dos grandes desafios quando se tem uma cadeia integrada é romper a lógica do máximo local. Ora, o diretor da fábrica aprendeu que sua missão maior é não deixar as máquinas paradas. Elas devem produzir o tempo todo visando a maximizar o uso do recurso disponível. O mesmo vale para o diretor de transportes. Na visão dele o caminhão deve sair totalmente preenchido de forma a, como seu colega da produção, maximizar o recurso.

Contudo, o FAST FASHION não será implantado plenamente se todos os elos da cadeia agirem com intuito de maximizar o resultado localmente. Há que se pensar globalmente, ou seja, pensar na cadeia como um todo e não em cada uma das partes isoladamente, ainda que isto signifique perdas locais. Trata-se de uma nova forma de pensar, muito importante e de difícil convencimento, a começar pelo alto comando das empresas.
ZARA, Forever 21 e C&A são as representantes estrangeiras do segmento FAST FASHION presentes no Brasil, que vieram se juntar a Riachuelo, Renner e Marisa. A sueca H&M não chegou por aqui ainda, mas sabe-se que vem “namorando” nosso país há algum tempo. Com a inauguração de sua primeira loja em Montevidéu, prometida para este ano, provavelmente irá desembarcar por aqui em pouco tempo também. As questões tributária e de câmbio devem estar exercendo um papel importante nesta hesitação, uma vez que o mercado consumidor brasileiro é muito atraente.

Retomando o conceito puro de FAST FASHION, que prevê o domínio de toda a cadeia de suprimentos, a Riachuelo, do grupo Guararapes, é a única das redes citadas que produz no Brasil. Este diferencial, mais do que enquadrá-la plena e unicamente no conceito, traz uma vantagem competitiva muito importante. O controle e acompanhamento de cada produto (SKU) durante todo ciclo, até que chegue nas mãos dos clientes finais e a velocidade de resposta são a chave do Fast Fashion.

Marcos Tadeu
Membro Fundador do Portal NDEV
Especialista em Fast Fashion

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Atua no varejo de moda desde 1993, na Riachuelo, onde é diretor de expansão, tendo estado à frente do maior plano de expansão da empresa. Ocupa atualmente a posição de diretor de expansão. Teve passagens por McDonald's e Varig. É formado em Administração de Empresas com MBA em Varejo pela FIA USP.

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