Por Marilene Araújo
Membro Fundadora do Portal NDEV Brasil
Especialista em Varejo de moda monomarca

Numa breve retrospectiva para entender como, a meu ver, chegamos até aqui; a última década foi sem dúvida a mais conturbada quando falamos de varejo de moda no Brasil. Iniciando pela era de ouro do varejo com a entrada de inúmeras marcas internacionais aliada ao boom de lançamentos e expansões de shopping centers.

A oferta de espaços e a necessidade de conter a concorrência internacional fez com que lojas do segmento como, Renner e Riachuelo, dobrassem o número de operações em um curto espaço de tempo: investiram forte no layout de lojas, produto e atendimento – conquistando novos clientes das classes A e B+ que antes “torciam o nariz” para essas lojas. Este crescimento exponencial das duas gigantes redes de lojas somadas a Zara contribuíram para o fechamento de pequenas marcas de moda que não podiam concorrer de igual para igual com as gigantes do Fast Fashion. Até mesmo marcas consagradas perderam parte do pocket share de seus clientes para as suas “novas concorrentes”.
Logo em seguida, se instalou uma das piores crises econômicas que o varejo já atravessou. Algumas marcas internacionais bateram em retirada e outras tantas nacionais fecharam as portas. O caos se instalou com a enorme vacância dos shoppings, o crescimento do e-commerce, a instabilidade política e econômica e uma nova geração que não vê o consumo exagerado com bons olhos geraram uma paralisia no mercado.

Contudo, como diz a velha máxima, “enquanto uns choram, outros vendem lenço”. Um novo ciclo se inicia. Muitos estilistas e fabricantes não tiveram como se recolocar no mercado; só lhes restou como alternativa; criar suas próprias marcas. Todos atentos aos conceitos que regem a tendência atual do mercado: consumo consciente, lifestyle, moda com propósito, responsabilidade social, custos baixos e vendas através de plataformas digitais e bazares.

Uma nova onda começa nos grandes centros: os coletivos de moda, que vem a ser a curadoria de pequenos estilistas somados a gastronomia e arte, reunidos no mesmo local para baratear os custos e proporcionar novas experiências de consumo para o seu cliente. Ao mesmo tempo, os shoppings sofrem com a inadimplência, altas taxas de vacância e sem lojistas de moda para repor. É neste momento que os “shoppeiros” são levados apostar nos pequenos empresários, oferecendo pop-ups (lojas temporárias) para monomarcas e até mesmo grandes espaços para abrigar os coletivos.

Estes coletivos funcionam como uma incubadora, no qual algumas marcas vão morrer, e outras vão crescer aproveitando os benefícios do compartilhamento de custos e troca de experiência, que vão gerar vantagens competitivas que sozinhas, não teriam acesso. Já existe inclusive shoppings que desenvolveram softwares que permitem gerir um conglomerado de diferentes marcas em um mesmo espaço com um caixa único, sendo que cada marca recebe individualmente sua parcela. A tecnologia a serviço da simplificação das operações e, consequentemente, a custos mais baixos, são os fatores preponderantes para o sucesso.

Por outro lado, grandes marcas de moda ficaram ainda mais fortes com o fechamento dos seus concorrentes, pois têm maior poder de barganha com os shoppings e fornecedores. O Grupo Soma, o qual represento (Animale, A Brand, Cris Barros, Farm, Fábula, FYI e Foxton) inaugura 18 lojas novas em 2018 e iniciou o  projeto de internacionalização da Farm, através da venda por atacado e da inauguração de três pop-ups no próximo ano. Outras marcas estão seguindo o mesmo caminho, como Arezzo, Havaianas e Virzi que já encontraram no mercado americano uma forma de escoar e divulgar os seus produtos.

A concorrência agora vem através do e-commerce; com apenas um clique o cliente tem acesso a produtos da China, Europa e Estados Unidos.

Nesta nova era, as marcas devem pensar a sua estratégia de crescimento em todos os canais: o omni-channel serve não só para divulgação e comodidade do cliente, mas para barateamento das operações, através da centralização do estoque e redução de impostos, mas o papel das lojas físicas ainda são fundamentais na decisão de compra, é nela que o cliente deve ser fidelizado, através de uma excelente experiência. Ou seja, temos que trabalhar cada vez mais, pois a concorrência é global e o cliente está cada vez mais exigente, temos que atendê-lo a qualquer tempo e da forma que ele quiser comprar.
As grandes redes de Shopping Centers já estão desenvolvendo as suas próprias plataformas digitais e vão fazer dos shoppings grandes centros de distribuição e estão revendo os custos de luvas e aluguel a fim de permitir a entrada e permanência destas novas marcas de moda. Pois, a moda sempre será o diferencial de mix dos shoppings, e assim, o varejo se retroalimenta. Lembrando que o que está na moda, é moda com propósito.

Marilene Araújo
Membro Fundadora do Portal NDEV Brasil
Especialista em Varejo de moda monomarca

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