Por Marcos Hirai

Se você é empresário ou gestor de empresa, deve estar pensando como será a “vida voltando ao normal” – que, na visão mais otimista, poderá ocorrer ainda no segundo semestre deste ano ou, no pior cenário, no primeiro ou segundo semestre do ano que vem. Claro, se a sua empresa sobreviver até lá. Até porque não foi só um surto de pandemia que se abateu sobre nós. O coronavírus aflorou uma série de mudanças na maneira como pensamos, sentimos e vivemos. Um misto de tsunami, terremoto e tornado, tudo junto e misturado, varreu cada canto deste planeta e, com maior ou menor intensidade, deixará marcas indeléveis na Humanidade.

Todos os eventos destas proporções provocam transformações profundas nas economias dos países e nos arranjos políticos de governos, mas também, e por consequência, em novos hábitos e comportamentos dos consumidores, moldando sociedades. Para as empresas, a consequência de tudo isso são as oportunidades para o desenvolvimento de novos produtos e serviços, impulsionadas pela aceleração digital que se mostrou uma tendência nos momentos atuais.

Fazendo uma analogia, o ambiente é muito semelhante aos períodos pós-guerras. Além da dor, da destruição e do caos instaurado pela guerra, estes grandes conflitos acabaram por exigir esforços das partes envolvidas. No período compreendido entre a 1ª e a 2ª Grandes Guerras Mundiais (1914-1945), a humanidade presenciou a maior revolução científica jamais vista. O homem fez, nesse período, o que não havia feito em 19 séculos. Ao mesmo tempo em que causaram uma enorme destruição no mundo, as duas grandes guerras trouxeram consigo o avanço científico e tecnológico de que até hoje desfrutamos. Os computadores, o forno de micro-ondas, o Fusca da Volkswagen, os radares, os helicópteros, os antibióticos, os foguetes e a bomba atômica, entre outros, nasceram durante os conflitos.

Trazendo para o mundo presente, não há dúvida de que o coronavírus é um desastre global que continua ceifando centenas de milhares de vidas e devastando economias. Quando for finalmente controlado, nenhum país e nenhuma comunidade sairá imune. Paradoxalmente, a exemplo da 1ª e 2ª Guerras Mundiais, esta pandemia também trará legados positivos. Se há alguma certeza sobre a atual pandemia é que grandes mudanças estão chegando, algumas das quais já estamos sentindo, mas apenas começando a entender. Quantas inovações foram introduzidas em nossas vidas nos últimos 12 meses? O e-commerce, os deliveries de comida, o home office, a ressignificação do lar e do ambiente doméstico, as reuniões virtuais, a meditação, o streaming, o ensino a distância e a telemedicina são alguns exemplos.

E é aí que lanço esta provocação. Sua empresa está preparada para um mundo pós-vacina? Sua empresa está pronta para as mudanças em curso? Nas startups, um termo muito comum é a pivotagem. O que é pivotar? Pivotar, em uma startup, significa girar para uma outra direção e testar novas hipóteses estratégicas sem perder o aprendizado já adquirido. Em outras palavras, fazer uma pivotagem é mudar a trajetória e passar a testar outras hipóteses fundamentais para a construção do modelo de negócio.

Aqui no Brasil, as empresas vivem um momento de intensa pressão. Além das questões de administração do fluxo de caixa, as incertezas com o agravamento da pandemia e o risco de lockdown, o ritmo lento de vacinação, a alta do dólar e da inflação, o clima político tenso e uma recessão econômica crescente criam um cenário que impossibilita qualquer planejamento de médio e longo prazo decente.

A sobrevivência de curto prazo acaba inibindo uma revisão do seu “core business” e no planejamento de novos produtos e serviços. Mas mais do que nunca, isto se faz necessário. A prioridade em repensar o “core” da sua organização pode começar na inspiração de soluções de outros players e dos pioneiros de mercado. No entanto, se precisar fazer uma mudança mais ambiciosa, visando explorar um novo mercado potencial, precisará operar com maior incerteza. Certifique-se de que vai validar múltiplas ideias em paralelo para aumentar a taxa de sucesso.

Para a maioria das empresas, certamente a Transformação Digital é o grande legado da Covid-19. A omnicanalidade não só para seguir uma estratégia orientada ao cliente, como também como modelo de sobrevivência e obrigatoriedade para os negócios. Os atores principais dessa demanda são os seres humanos, por isso não são só upgrades de sistemas, mas sim uma mudança de cultura que precisa ser trabalhada por toda a empresa para permitir a integração da visão do cliente dentro da organização. Indicadores como hiperpersonalização e customer centric serão determinantes para distinguir companhias que terão sucesso na estratégia de omnicanalidade. Para companhias que não nasceram digitais, o caminho é preparar um Plano Diretor de Digitalização, estabelecendo os pontos que devem ser focados para uma implementação mais assertiva.

Bom, nunca é tarde. Se a sua empresa quer se manter relevante depois que tudo isso passar, apesar das adversidades atuais, a dica é buscar inspiração nas startups, afinal, elas têm muito a ensinar no repensar da sua empresa.

Marcos Hirai é CEO da Omnibox, startup especializada em Varejo Autônomo.

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