Escrito por Paulo Matos
Diretor da Tommy Hilfiger Brasil @InBrands
Após a mudança de cenário da economia do Brasil e frente ao novo câmbio (cerca de 60% maior do que há quatro anos), tivemos a saída de players Internacionais do Brasil, tais como G Star, Juice Culture, Kate Spade, Desigual, Nautica, Gant, etc.
Isso não aconteceu somente com as marcas premium, também conhecidas como “Affordable Luxury”. A luxuosa flagship da Ralph Lauren, montada no shopping Cidade Jardim, encerrou suas atividades recentemente e, no segmento esportivo, a recém-lançada Under Armour passa sua operação direta para o grupo Vulcabrás, com um contrato de licença/distribuição. A Vans, da gigante global VF Corporation, anuncia que também deixará o Brasil.
Diante disso, será que existe uma receita para trabalhar com marcas internacionais no Brasil com lucratividade e de forma autofinanciável?
Eu continuo defendendo que sim, e que é uma questão de ajuste na receita a ser usada. Isso significa que é preciso mensurar o tamanho do negócio compatível ao Brasil de hoje.
No final do ano passado, percebi uma nova abordagem que marcas estavam usando para estarem presentes no Brasil.
Trata-se da venda direta por um site (E-commerce) de moda. A Dafiti, presente no Brasil há cerca de uma década, é um exemplo.
Exemplo da oferta de forma exclusiva do Brasil da marca Banana Republic pela Dafiti.
Marcas internacionais como Desigual e Banana Republic são vendidas exclusivamente pela Dafiti no Brasil.
A princípio, entrar pelo e-commerce parece óbvio e é algo muito utilizado na Ásia, onde o comercio eletrônico é muito mais desenvolvido do que no Brasil.
Entretanto, vejo alguns desafios em uma distribuição puramente e-commerce no País.
O primeiro é que a compra é feita com nove meses de antecedência e, para a maioria das marcas, a reposição é inviável. Segundo: em sua maioria, estamos falando de marcas nascidas e criadas no hemisfério Norte, logo, sempre teremos no Brasil uma coleção da estação climática inversa. Coleção de Inverno para vender no nosso Verão.
E, por último, a logística. Com a estrutura de “Global Sourcing”praticada pelas maiores marcas, todos os pedidos do mundo são consolidados e enviados para diversas fábricas na Ásia. Isso traz uma competitividade grande, porém sem profundidade, pois se compra um pouco de cada referência e a compra acaba ficando muito pulverizada entre diferentes fabricas.
Isso te obriga a consolidar uma carga, ou seja, juntar em um armazém logístico na Ásia todos os seus pedidos, unificar a “Invoice” e embarcá-los de uma vez só. As consequências são atraso de lançamento e custos extras.
Por outro lado, quanto vale para a Dafiti ser a única distribuidora dessas marcas no Brasil? Manter uma “aura” de expert em moda.
Se isso é bom ou ruim ainda é cedo para saber, mas que tal vermos juntos o que vai acontecer?