Por revista Exame

Agilidade ainda não é a palavra que define o comércio eletrônico brasileiro. Comprar um produto online no Brasil significa esperar uma média de 13 dias, segundo dados do primeiro semestre de 2019 da consultoria Compre&Confie.

Maior rede de shopping centers do Brasil, a BR Malls começou a testar um formato que pode mudar em parte essa lógica. A empresa anunciou na semana passada uma parceria entre um de seus shoppings, o Villa Lobos, em São Paulo, e a empresa de e-commerce argentina Mercado Livre.

A ideia é que os lojistas do shopping coloquem seus produtos à venda na plataforma do Mercado Livre, e que, uma vez comprados online, os itens saiam diretamente do estoque dos lojistas para a casa dos clientes. Dessa forma, a entrega consegue ser feita no mesmo dia — algo ainda incomum no Brasil, onde apenas 5% dos pedidos online foram entregues em até 24 horas em 2018, segundo a eBit/Nielsen.

Enviar produtos direto das lojas em vez de usar grandes e afastados centros de distribuição é um modelo que já começa a ser usado por grandes varejistas. Nessa tendência, a ampla rede de shopping centers pode se mostrar uma aliada: o Brasil tem mais de 560 shoppings, com mais de 100.000 lojas e mais de 490 milhões de visitantes ao mês, segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers.

Antes da nova parceria, a BR Malls já usava as entregas diretas em seis de seus 29 shoppings, sobretudo no ramo de refeições, em parceria com a startup gaúcha Delivery Center (da qual é sócia). Segundo a empresa, as vendas dos lojistas subiram em média 10% com o serviço. A mesma estrutura será usada para as entregas do Mercado Livre no Villa Lobos.

“Estamos vendendo a proximidade com o consumidor que os lojistas do shopping carregam”, diz Vicente Avellar, diretor de operações da BR Malls. Leia abaixo trechos da entrevista com Avellar, que explica como pretende inserir os shoppings no bilionário mercado do comércio eletrônico.

Por que a BR Malls decidiu fazer essa parceria com uma empresa de comércio eletrônico em vez de criar um e-commerce próprio?

Há algum tempo vínhamos acompanhando esse movimento de inovações no varejo e estudando como queríamos nos posicionar. Havia duas possibilidades: ou tentar criar todo o ecossistema sozinho, ou trazer os principais atores para trabalhar junto. E optamos pela segunda opção, criando um ecossistema para que o shopping tenha um papel nessa dinâmica do comércio eletrônico. Por isso, decidimos por abrir esse canal de entregas, para que tornemos o shopping um ponto logístico para fazer parte da entrega para o cliente final. E nos aproximamos do Mercado Livre, que é o maior e-commerce do Brasil.

Qual a vantagem para o cliente?

Um pedido que poderia demorar uma semana para chegar à casa do cliente, a partir do momento em que sai do shopping mais próximo, pode chegar em uma hora. É o tempo que levaria um pedido de comida, por exemplo, que já é mais popularizado. E, para o e-commerce parceiro, nesse caso o Mercado Livre, estamos vendendo a proximidade com o consumidor que os lojistas do shopping carregam. Se o shopping já está ali ao lado da sua casa, por que não criar uma forma de conectar o consumidor do e-commerce ao shopping?

Grandes varejistas que têm lojas físicas, como Via Varejo, B2W (com as Lojas Americanas) ou Magazine Luiza também já vêm usando suas lojas como ponto de apoio logístico, seja com a opção de retirar na loja um produto comprado online ou usando os estoques das lojas para as entregas. Nesse sentido, por que vocês avaliam que a parceria com shoppings será um diferencial?

Os grandes varejistas têm mais estrutura e grande condição de viabilizar esses pontos logísticos urbanos até sozinhos. Mas agora os lojistas menores poderão ter a mesma possibilidade. Além disso, mesmo os grandes lojistas vão acabar entendendo que é importante estar aberto a todos os canais.

A parceria BR Malls e Mercado Livre vai incluir a possibilidade de retirar um produto comprado online diretamente no shopping? 

Não. Por enquanto, só é possível receber em casa, não retirar na loja. E a ferramenta funciona somente para quem tem um endereço de entrega perto do shopping, num raio entre três e quatro quilômetros. Se esse usuário escolher no aplicativo do Mercado Livre o botão de entrega no mesmo dia, enxergará os produtos do Villa Lobos. Ainda estamos estudando a possibilidade de entrega para distâncias maiores, vendo o que faz sentido.

Os produtos de todos os lojistas do Villa Lobos estão disponíveis no aplicativo?

Começamos com um grupo menor de lojistas e estamos colocando os demais na solução ao longo dos próximos meses, com vestuário, infantil, moda íntima, eletrônicos, vinhos, o que já é uma mistura bastante sortida.

Como será, na prática, a logística da entrega? O shopping vai contratar uma equipe específica para isso?

Usaremos a parceria com a startup Delivery Center [de gestão de entregas], da qual somos sócios e que já atua no Villa Lobos. Neste ano mais de 300.000 pedidos foram entregues por meio da Delivery Center, a maioria comida com parceiros como iFood e Rappi. Temos uma equipe que anda pelo shopping para coletar os produtos e leva para a equipe que vai organizar a entrega. E essa mesma estrutura está sendo usada para os pedidos do Mercado Livre. No almoço e jantar temos um pico de entrega de comida, mas na parte da tarde temos um espaço que pode ser usado para essas novas entregas.

Em quanto o preço do frete dos pedidos online pode diminuir com essa parceria?

Como há muita variedade de produtos, ainda não calculamos o preço médio, porque o frete de um vinho e de uma camiseta varia. Mas o que posso dizer é que, como já existe toda essa estrutura montada, consigo criar uma dinâmica em que o preço do frete fique mais perto do preço de uma entrega de comida, por exemplo.  Porque o estoque já está ali no shopping, a equipe de entrega já está ali, e isso barateia a operação. O produto vai direto do estoque até o cliente, sem paradas. O last mile (última milha, etapa final da entrega) vira first mile.

Vocês estudam expandir a solução para outros shoppings, ou fazer parceria com outros varejistas além do Mercado Livre?

Por enquanto o Villa Lobos é um piloto. Mas, sim, é uma possibilidade futura expandir para outros shoppings ou integrar com outros e-commerces relevantes. Começou com o Mercado Livre porque tínhamos uma aproximação, mas a ideia é que isso seja parte da nossa estratégia de integrar o varejo físico ao online, de potencializar o estoque do meu lojista.

Se o cliente poderá pedir uma mercadoria do shopping e recebê-la rapidamente, vocês temem que, caso essas soluções se popularizem, os shoppings fiquem esvaziados?

Não. Estamos trabalhando dentro do shopping para criar formas de que o shopping consiga participar da melhor forma possível do e-commerce, ao mesmo tempo em que consiga se concentrar também em oferecer uma experiência e comodidade para quando o consumidor quiser vir ao shopping. É muito difícil arbitrar qual será o canal vencedor que vai trazer mais pedidos. É importante o negócio estar disponível e integrado com o máximo de canais possíveis.

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