Por Marcos Hirai

Você já comprou algum artigo de móveis e decoração pela internet? Não? Bom, provavelmente ainda comprará. Pesquisa recente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm), em parceria com a Konduto, mostrou que o setor de móveis e decoração está entre os que mais cresceram no online no ano passado, com 23,61% de aumento.

O segmento como um todo movimenta estimados R$ 90 bilhões por ano no País. Deste total, apenas 8% se dão por meio de canais digitais. É um mercado muito pulverizado: os cinco maiores players respondem por apenas 13% das vendas, segundo a Euromonitor.

E a pandemia potencializou este mercado. O fato de os brasileiros estarem mais em casa por conta da reclusão social imposta pela Covid-19 naturalmente fez com que as famílias passassem a observar melhor o lar onde vivem.

Esse lustre poderia iluminar melhor? Essa cadeira não é nada confortável? Impossível assistir à televisão em um sofá tão duro? Está faltando um quadro naquela parede? Pois é. Questões como essas levaram milhões de brasileiros a fazerem alguma mudança na decoração e nos móveis de suas casas. A necessidade obrigou que varejistas de móveis e decoração se reinventassem para garantir a demanda, mesmo com as lojas físicas fechadas. Foi a hora e a vez do e-commerce do setor.

Alguns dos principais players deste mercado colhem agora os frutos deste momento favorável. O ano de 2021 já está marcado como o ano da consolidação das empresas que atuam neste segmento. Três grandes anúncios de investimentos entre janeiro e fevereiro agitam o setor.

Já no comecinho do ano, no dia 7 de janeiro, a startup curitibana de vendas de móveis pela internet MadeiraMadeira tornou-se o mais novo unicórnio brasileiro, com seu valor de mercado atingindo mais de US$ 1 bilhão com um aporte de US$ 190 milhões coliderado pelo fundo latino-americano do SoftBank e pelo Dynamo. Além deles, a série E de investimentos contou com aportes do Flybridge e Monashees, que já investiam na empresa.

No mês passado, no dia 5 de fevereiro, foi a vez da loja de móveis online Mobly. A companhia, controlada pelo grupo alemão Rocket Internet, levantou R$ 811,6 milhões com a estreia de suas ações na B3, a bolsa brasileira.

Completando o ciclo, no dia 9, a Westwing, plataforma de casa, decoração e lifestyle, que é referência no segmento com altos índices de engajamento em redes sociais, lançou seu IPO e conseguiu logo na sua estreia na bolsa levantar R$ 1,16 bilhão, um sucesso.

Outra gigante do setor com a maior rede de lojas físicas, a Tok&Stok também está preparando seu IPO, escolhendo o melhor momento do ano para lançar o seu, mas ainda sem previsão.

Curiosamente, todas essas operações digitais anunciaram que parte dos valores arrecadados será para custear a expansão por lojas físicas ou guide shops, como preferem chamar. A exemplo da varejista online de moda Amaro, que já utiliza esta estratégia há muitos anos para alavancar as vendas do seu portal de e-commerce.

As guide shops são lojas não têm estoque e não foram projetadas para o cliente ir retirar produtos comprados no e-commerce. A proposta dos espaços é oferecer ao consumidor uma experiência com parte do catálogo destas empresas, que está espalhado por diversos ambientes decorados. Caso o cliente se interesse por um móvel, pode fazer a compra online na própria loja, com ajuda dos vendedores.

É a melhor simbiose do online com o offline. Todas estas movimentações demostram o fôlego deste setor. Sem dúvida alguma, todos estes aportes provocarão uma revolução nos costumes do consumidor em comprar móveis e decoração, além de uma maior concentração de mercado. A batalha dos sofás está só começando!

Marcos Hirai é CEO da Omnibox, startup especializada em Varejo Autônomo.

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