Por Marcos Hirai
Nas últimas semanas, você já deve ter ouvido inúmeros cases de varejistas que contaram histórias semelhantes como esta abaixo:
“Estávamos planejando iniciar nossas vendas por e-commerce fazia mais de dois anos e por diversos motivos não saía do papel. Com a decretação da quarentena, colocamos nossa loja digital em três semanas.”
“Fazer entregas por delivery nunca foi uma prioridade em nossos restaurantes, mas quando fomos obrigados a fechar por conta da crise da pandemia, nossa equipe se mobilizou rapidamente e em menos de dez dias iniciamos as primeiras entregas.”
“Nunca demos importância às redes sociais e jamais imaginávamos fazer vendas por este meio, mas com a crise, nos aventuramos a criar um canal de interatividade com os nossos clientes que jamais fizemos antes e surpreendentemente, conseguimos alcançar um engajamento muito superior ao que tínhamos com as lojas físicas. Certamente vamos manter este canal depois que tudo isto passar e certamente passaremos a investir cada vez mais nesta frente.”
Parafraseando a famosa frase de Jean Cocteau – “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez” -, o que estamos vendo desde que foram instaurados aos decretos municipais de fechamento do comércio e o distanciamento social nas cidades brasileiras, são inúmeros os casos de empresas que mudaram rapidamente o mindset do “achando que era impossível nunca fez” para o “mesmo achando que era impossível, foi lá e fez”.
É incrível o processo de transformação digital que está ocorrendo dentro do varejo físico neste momento. Nunca tantas iniciativas e projetos de integração de canais foram colocados em prática num período tão curto. É como se todos adotassem a metodologia ágil (agile, em inglês) na execução de projetos da noite para o dia. A verdade, é que com a crise causada pela Covid-19, o que seriam normalmente processos mais lentos – avaliar o que precisaria mudar, checar alternativas, implementar de forma paulatina os processos… Tudo isso entrou em aceleração por causa da pandemia. E inovar virou questão de sobrevivência para a maioria dos varejistas.
Apesar de tantas notícias ruins que se abatem aos varejistas, este período certamente deixará grandes legados importantes para os pequenos, médios e grandes comerciantes. E isto porque o consumidor teve que mudar radicalmente sua maneira de comprar. Veja alguns dos principais avanços de ações digitais que a pandemia está deixando para o varejo:
– Fortalecimento das vendas online: Com a legião de consumidores mais velhos que resistiam em aderir a compras de mantimentos ou outros produtos online, depois do advento do coronavírus os forçou a ficarem confortáveis. Quando entram na nova rotina e se acostumam com a facilidade da entrega à sua porta, esses compradores deverão ter uma outra relação com o varejo físico. De acordo com um estudo da SmartCommerce, plataforma de comércio eletrônico para marcas de produtos embalados, impressionantes 40% dos atuais compradores online fizeram sua primeira compra em março deste ano. Nesta esteira, a telemedicina para as consultas médicas e o uso mais intensos dos bancos digitais em detrimento às idas em agências bancárias físicas também ganharão intensidade;
– Intensificação dos serviços de entrega: Existe um certo consenso que o consumidor não vai querer sair de casa e se colocar em risco de contaminação por um certo tempo, mesmo após a liberação da quarentena, por isso, lojas, restaurantes e bares inegavelmente precisarão se render ao delivery. Entregas de produtos ou de comida pronta irão se sedimentar pois o consumidor já descobriu que para comprar produtos e serviços, ele nem precisa sair de casa;
– Lojas autônomas: Nesta nova reconfiguração do consumidor, prevê-se a expansão dos locais de compras autônomos, sem a presença de atendentes nem caixas e com mais conveniência. Localizados onde está a demanda e privilegiando a redução do tempo e a necessidade de deslocamento, vamos assistir ao crescimento de uma nova geração de formatos, onde Amazon Go e outros, foram precursores, mas agora reconfigurados em sua proposta, tecnologia e oferta.
Enfim, algumas tendências tecnológicas que já estavam sinalizadas antes da pandemia estão e continuarão sendo aceleradas, contribuindo para construir uma sociedade mais resiliente com significativos efeitos sobre como fazemos negócios, como trabalhamos, como produzimos bens, como aprendemos, como procuramos serviços médicos e como nós nos divertimos.
Tecnologias como Inteligência Artificial, Internet das Coisas, Robótica, Big Data, Reconhecimento Facial e outras que virão serão incorporadas de forma mais massiva no varejo brasileiro e o consumidor será altamente beneficiado.
Está claro que a transformação digital não é mais uma questão de oportunidade ou escolha, mas imperativo. Quanto mais tempo a empresa demorar para fazer sua transformação, mais irrelevante e marginalizada ficará. A questão não é se as empresas aceitarão ou não as mudanças provocadas pela transformação digital. Não são elas que impedirão isso de acontecerem. O mundo já mudou. O vírus já fez isso.