Por Marcos Hirai

Neste momento, certamente paira nas cabeças dos varejistas (e de toda a sociedade brasileira) a dúvida sobre quando esta pandemia irá, de fato, deixar de ser um tormento em nossas vidas. O segundo semestre do ano está comprometido ou não?

Na semana passada, entidades de diversos setores da economia, entre elas Abrasce, Abrasel, CNDL, ABF, Sindilojas, Fecomercio, ADVB, entre outras, divulgaram em alguns veículos de comunicação mais um manifesto pedindo o reestabelecimento do funcionamento do comércio brasileiro, que muito tem sofrido em função das medidas de restrição em combate à Covid-19. O texto destaca que, no período da pandemia, 50 mil bares e restaurantes fecharam as portas e 400 mil trabalhadores do segmento foram demitidos. Além disso, 25% do comércio quebrou e não volta mais e 30 milhões de brasileiros já estão desempregados.

De longe, esta crise é, historicamente, a maior pela qual o varejo brasileiro já passou. Nem os períodos de guerras e as recessões das últimas décadas geraram tantos estragos. Nesta contabilidade, as micro e pequenas empresas foram as mais prejudicadas, atingidas com a mesma força que o coronavírus abateu os seres humanos. A falta de apoio governamental, principalmente durante a segunda onda da pandemia, tem sido o golpe de misericórdia.

Segundo alguns especialistas, considerando a velocidade lenta da vacinação e agora a criticidade em relação à aplicação da segunda dose, uma vez que muitos Estados já não possuem mais estoques, além do relaxamento das medidas de isolamento, não se descarta uma terceira onda da pandemia. Se isto vier a acontecer, pode ser a gota d’água para os varejistas que até agora têm se mantido vivos.

Apesar desses cenários ameaçadores, existe também uma visão otimista para o segundo semestre deste ano. Um estudo feito pelo Sebrae a partir de dados da Fiocruz e considerando uma visão otimista dentro do cronograma de entrega de vacinas do Ministério da Saúde, estima que, se até agosto pessoas com até 40 anos forem imunizadas, chegaríamos a dois terços da população imunizados.

Isto ocorrendo, cerca de 9,5 milhões de pequenos negócios podem retomar o nível de atividade equivalente ao registrado antes da pandemia. Isso representa cerca de 54% do universo de microempreendedores individuais e micro e pequenas empresas brasileiros. São negócios que atuam principalmente nos setores menos atingidos pela crise e que teriam uma reação mais rápida ao contexto de imunização da população: comércio de alimentos, logística, negócios pet, oficinas e peças, construção, indústria de base tecnológica, educação, saúde e bem-estar e serviços empresariais.

Este cenário poderá ocorrer porque as medidas de restrições ficarão mais brandas, trazendo um certo alívio para a sociedade, e consequentemente os shopping centers, as lojas físicas e os restaurantes voltariam a receber na plenitude seus clientes. Talvez num movimento de retomada dos momentos e dos prazeres perdidos.

É preciso considerar que parte da população teve seu poder aquisitivo afetado pela pandemia. Um estudo da consultoria IDados, do Rio de Janeiro, baseado em indicadores da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, mostra que oito em dez famílias de renda média se apertaram para viver com menos no fim do ano passado. A maior parte dessas pessoas perdeu entre 10% e 50% da renda do trabalho. Para duas em dez famílias, a pandemia levou entre 50% e 80% da renda familiar. E, pior: um em dez domicílios de classe média viu a fonte de renda secar entre 80% e 100%. Esse empobrecimento afetou mais fortemente moradores das grandes cidades, porque o custo de vida é muito mais alto numa metrópole do que numa cidade do interior.

Certamente não há nenhuma certeza do que virá, afinal, muitas variáveis ainda podem alterar significativamente o panorama. Uma coisa é certa: a vacina é o único meio capaz de devolver a economia brasileira ao eixo da normalidade. Amém!

Marcos Hirai é CEO da Omnibox, startup especializada em Varejo Autônomo.

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